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Theaster Gates
A Mão Sempre Presente
A exposição individual do artista norte-americano Theaster Gates (Chicago, EUA, 1973) inaugura o programa contemporâneo da Albuquerque Foundation. Concebido como contraponto às exposições de longa duração da coleção, o programa contemporâneo apresenta obras de artistas que trabalham no campo ampliado da cerâmica, estimulando outras leituras das peças históricas. Além de obras do próprio Gates, a exposição inclui um conjunto de peças da Coleção Albuquerque, selecionadas pelo artista para dialogarem com as suas.
Ao longo das últimas décadas, o trabalho de Theaster Gates tem se tornado cada vez mais diversificado e poroso, abrangendo âmbitos que beiram o ativismo social, a música, o desenvolvimento urbano, a sociologia e os estudos culturais. O interesse do artista, o seu olhar, parecem estar sempre a vislumbrar algo para além dos limites do que é de facto visível, e as suas mãos e a sua voz parecem tocar, moldar e falar de algo que ainda não existe, mas que está, contudo, logo ali. Nos últimos anos, Gates tem empregado o termo Afro-Mingei para expressar o poder que surge da combinação de diferentes tradições criativas, nomeadamente a estética negra política e racialmente carregada, e as tradições cerâmicas chinesa, coreana e principalmente japonesa, na qual o conceito de mingei destaca a beleza silenciosa e imperfeita de objetos comuns e utilitários.
Na poética de Gates, o fascínio pelos modos reais e potenciais de fusão de diferentes culturas é simultaneamente utópico e realista, profundamente envolvido na construção de um mundo mais équo ou, pelo menos, na procura de formas de colaboração e criação mais inclusivas, colaborativas e orgânicas — questões ineludíveis no debate cultural contemporâneo.
A grande instalação proposta por Gates ecoa e faz reverberar noções de circulação cultural e de mercadorias centrais na maioria das peças de porcelana que integram a Coleção Albuquerque. Os azulejos em cerâmica preta que revestem o piso foram concebidos por um artista negro norte-americano, que estudou cerâmica com mestres japoneses; foram produzidos no Japão e expostos num museu de Tóquio; e chegaram a Portugal após semanas no mar, num percurso muito próximo ao das peças da coleção, inclusive as que o próprio artista escolheu para dividir com as suas o espaço expositivo, envolvidas num diálogo que enriquece e complexifica todas elas. Este piso escuro e denso confere ao espaço uma aura quase sagrada, e andar sobre ele torna o ato de caminhar um gesto consciente e proposital, carregado de histórias de outros lugares e de outras pessoas, entre as quais estamos, também, todos nós.
Parceiros na criação dos azulejos: Mizuno Seitoen Lab
Esta exposição não seria possível sem o apoio de:
Gagosian
White Cube